A prisão de MC Poze do Rodo na manhã desta quinta-feira movimentou as redes sociais e gerou uma série de questionamentos sobre o envolvimento de artistas com o crime organizado. Segundo a Polícia Civil do Rio de Janeiro, MC Poze do Rodo é acusado de utilizar sua influência musical como ferramenta de disseminação da ideologia de facções criminosas. A operação foi realizada na residência do cantor, localizada no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio. A ação faz parte de uma investigação que liga diretamente os shows do artista ao Comando Vermelho, uma das maiores facções do país.
A detenção de MC Poze do Rodo ocorre após uma série de eventos suspeitos envolvendo bailes funks em comunidades dominadas por traficantes. De acordo com a Polícia Civil, MC Poze do Rodo estaria se apresentando exclusivamente em áreas controladas por criminosos, com a presença ostensiva de homens armados garantindo a segurança das apresentações. As investigações apontam que os eventos contavam com o financiamento direto do tráfico de drogas, com o objetivo de aumentar o lucro da venda de entorpecentes. A presença de traficantes armados com fuzis nos eventos é uma das principais provas coletadas pelos investigadores.
As autoridades afirmam que MC Poze do Rodo usava suas músicas para promover apologia ao tráfico e incitação à violência. Segundo o secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, a arte do cantor foi transformada em um instrumento de exaltação à criminalidade. A análise do conteúdo musical de MC Poze do Rodo revela letras que fazem referência a armas, confrontos com rivais e ostentação de riqueza vinculada ao tráfico. A investigação ganhou força após um baile funk na Cidade de Deus, realizado em 17 de maio, onde diversos traficantes fortemente armados foram flagrados em vídeo.
Além das apresentações em territórios controlados por facções, MC Poze do Rodo também ostentava bens de alto valor que agora estão sob investigação. Durante a operação, joias e uma BMW avaliada em mais de um milhão de reais foram apreendidas. O veículo, segundo a polícia, apresentava irregularidades no registro, constando originalmente como preto, apesar de estar atualmente pintado de vermelho. A ostentação de luxo, segundo os investigadores, faz parte da narrativa cultivada pelo cantor, que reforça a imagem de poder associada ao crime.
A mulher de MC Poze do Rodo, Viviane Araújo, esteve presente durante a prisão, mas não foi chamada para prestar depoimento. A presença dela, contudo, chamou atenção da imprensa, que acompanhou de perto os desdobramentos da ação. MC Poze do Rodo foi levado para a Cidade da Polícia, onde prestará depoimento antes de ser encaminhado ao presídio de Benfica. O artista não quis dar declarações no momento da prisão e reclamou por estar algemado durante a condução policial.
As redes sociais foram palco de intensa movimentação após a notícia da prisão de MC Poze do Rodo. Fãs e críticos se dividiram entre apoiar o cantor e condenar sua suposta ligação com o Comando Vermelho. Com mais de 15 milhões de seguidores, MC Poze do Rodo é uma figura de grande alcance digital, e sua influência é apontada como um dos fatores agravantes pela Polícia Civil. A apologia ao crime, segundo os investigadores, atinge milhares de jovens, contribuindo para a naturalização da violência nas comunidades.
A Delegacia de Repressão a Entorpecentes segue investigando o caso e pretende identificar outros envolvidos na organização dos eventos suspeitos. O material recolhido nas redes sociais e nos vídeos dos bailes será utilizado para identificar traficantes, patrocinadores e demais cúmplices. A investigação também busca compreender a rede de financiamento que possibilitou a realização dos shows, divulgados como grandes festas e que atraíam centenas de pessoas, inclusive de fora das comunidades.
A prisão de MC Poze do Rodo representa mais um capítulo na relação entre a cultura do funk e o crime organizado no Rio de Janeiro. Embora o gênero seja uma importante expressão artística das periferias, casos como o de MC Poze do Rodo colocam em xeque os limites entre arte e apologia ao crime. A operação da Polícia Civil lança um alerta para a necessidade de diferenciar a valorização da cultura popular da instrumentalização da música como veículo de exaltação a facções criminosas. O caso segue em apuração e deve gerar novos desdobramentos nos próximos dias.
Autor: Valentin Zvonarev