O streaming virou o centro do entretenimento e deixou de ser apenas uma alternativa à televisão tradicional. Dados recentes apontam que o streaming representa hoje 44,3% de toda a audiência de TV nos Estados Unidos, ultrapassando praticamente a soma da TV aberta e da TV a cabo. A mudança é muito mais profunda do que apenas números. O comportamento da audiência se transformou, e isso mostra que o streaming não apenas ganhou espaço, mas redefiniu toda a lógica de consumo de conteúdo audiovisual.
A era das grades de programação ficou no passado. Com o avanço das tecnologias e a popularização de dispositivos conectados, o público passou a ditar o ritmo do consumo. O streaming se consolidou como um formato sob demanda, que se molda ao estilo de vida do usuário. Plataformas como Netflix, Max e Prime Video entenderam esse movimento e passaram a investir não apenas em volume, mas em experiências personalizadas, recomendação de conteúdo e formatos híbridos que ampliam a fidelização do assinante.
Um exemplo emblemático dessa transformação é o sucesso contínuo de séries como Grey’s Anatomy, que mesmo após duas décadas no ar, segue relevante por estar disponível em múltiplas plataformas. A série atingiu impressionantes 3,9 bilhões de minutos assistidos em abril, graças à sua distribuição simultânea na TV e no streaming. Isso demonstra que, mesmo conteúdos tradicionais, quando bem posicionados no ecossistema digital, conseguem alcançar novos públicos e manter os antigos engajados.
Outro fenômeno notável no domínio do streaming é o crescimento do YouTube, que chegou ao recorde de 12,4% de participação de mercado em tempo de visualização. Diferente dos serviços tradicionais, o YouTube cresce impulsionado por criadores de conteúdo, formatos curtos e uma linguagem própria, mais próxima das comunidades. A plataforma mostra como o conteúdo nativo digital pode ser tão relevante quanto grandes produções de Hollywood, aproximando o público de forma direta e espontânea.
No Brasil, o streaming também se consolidou como o principal meio de consumo de vídeo digital. O país já ocupa a sétima posição no mundo em número de assinantes de serviços de streaming. Com mais de 140 milhões de usuários consumindo conteúdo online, a experiência da televisão conectada se tornou o padrão. Segundo a Kantar, mais de 85% das casas com internet no Brasil possuem smart TVs, o que facilita o acesso e impulsiona ainda mais o consumo direto do controle remoto.
O investimento em produções locais tem sido uma estratégia bem-sucedida das plataformas no mercado brasileiro. A Netflix, por exemplo, já investiu mais de R$ 1,5 bilhão em conteúdo nacional. Sucessos como Sintonia, Cangaço Novo e Os Outros demonstram que o streaming no Brasil não apenas cresce, mas se torna cada vez mais regionalizado. A demanda por histórias autênticas e que dialoguem com a realidade brasileira impulsiona um novo ciclo de produção audiovisual, com foco tanto em qualidade quanto em identidade cultural.
A lógica do streaming não é mais sobre o canal e sim sobre o ecossistema. Os lançamentos acontecem simultaneamente em diferentes formatos e janelas, combinando teaser, maratonas, memes virais no TikTok e segmentações por público. O conteúdo precisa estar disponível onde, quando e como o usuário quiser. E quem domina essa estratégia, sai na frente na disputa por atenção em um cenário onde as opções são infinitas e a concentração da audiência se torna cada vez mais valiosa.
Outro ponto de destaque é o crescimento do modelo AVOD, ou seja, streaming gratuito com anúncios. Plataformas como Pluto TV, Samsung TV Plus e até mesmo o próprio YouTube vêm ganhando espaço entre os brasileiros. Um estudo da Bain & Company revelou que 58% dos brasileiros aceitariam assistir a anúncios em troca de conteúdo gratuito. Isso mostra que o streaming está se adaptando a diferentes perfis de consumo, garantindo alcance massivo e monetização diversificada.
O streaming venceu a primeira batalha e se tornou a principal forma de entretenimento do mundo moderno. Agora, o desafio das plataformas é manter a relevância em um mercado saturado, competitivo e altamente fragmentado. Quem entender melhor os hábitos da audiência e oferecer experiências personalizadas será o protagonista da próxima fase dessa revolução que transformou para sempre a forma como consumimos conteúdo.
Autor: Valentin Zvonarev