O altruísmo é um fenômeno complexo que envolve mais do que apenas um fator. Recentemente, um jovem de 20 anos, Marcos Vinícius de Souza Vasconcelos, salvou uma mãe e suas gêmeas de um ano de uma enxurrada em Nova Iguaçu, arriscando sua própria vida. Essa ação heroica levanta muitas questões: por que ele fez isso? Qual é o papel da genética, da educação e do humor nessa decisão? A ciência tenta responder a essas perguntas, mas a resposta não é simples.
De acordo com o pesquisador de pós-doutorado em Neurociências Cognitiva e Neuroinformática do IDOR-RJ, Tiago Bortolini, o altruísmo pode ser dividido em dois tipos: o altruísmo normal, que envolve ajudar o outro sem colocar a própria vida em risco, e o altruísmo extremo, que é mais difícil de explicar. Bortolini afirma que a ciência ainda não sabe como o cérebro toma decisões, especialmente as mais complexas. A explicação para a decisão de Marcos Vinícius é pura especulação.
O antropólogo e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), Paulo Niccoli, destaca que o comportamento humano extrapola a natureza e é influenciado por três camadas: a sociedade, a família e o indivíduo. A formação cultural e religiosa, a educação e os valores passados pela família, e a identificação com o evento ou a pessoa em necessidade, todos esses fatores influenciam a decisão de ajudar. Além disso, o modelo econômico também pode moldar o caráter do indivíduo, com valores como o senso comunitário ou a competição individual.
Pesquisadores da Case Western Reserve University, nos EUA, estudaram atos de altruísmo e descobriram que a genética é responsável por 51% desses gestos de bondade. No entanto, é difícil comprovar a influência da genética em atos de altruísmo extremo. O geneticista Salmo Raskin, diretor do Centro de Aconselhamento e Laboratório Genetika, em Curitiba, explica que a genética pode ter um papel maior em decisões que envolvem a família ou a reciprocidade, enquanto o componente cultural pode ser mais forte em situações com menor chance de retorno.
O altruísmo, mesmo o extremo, pode ser visto como uma evolução da nossa espécie. A cultura e a biologia coevoluiram, levando a mais atitudes altruístas entre humanos. No passado, as leis de sobrevivência eram mais severas, hoje há uma abertura maior para ser altruísta.
O altruísmo é um fenômeno complexo que envolve fatores como a genética, a educação, o humor e a cultura. Embora a ciência não tenha uma resposta simples para explicar por que as pessoas fazem atos de generosidade extrema, é claro que essas ações são fundamentais para a sobrevivência e o bem-estar da humanidade.